quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Treme mas não cai

Pelo menos desde 2006, que foi quando comecei a acompanhar essa história, há planos da Prefeitura da Cidade de São Paulo de demolir o edifício São Vito – popularmente conhecido como “Treme-treme” – que fica em um dos lugares mais sujos e degradados do centrão paulistano. A intenção é começar a recuperar a região, que abriga também o Mercado Municipal, prédio que foi restaurado e agora é um bom destino de fim de semana. Desde que, é claro, você tenha a paciência de circular por uma hora e meia para achar onde estacionar e, quando parar o carro, tenha de R$ 15 a R$ 20 pra desembolsar pela estada do veículo. O transporte público na região – absurdamente central – é sofrível.

O prédio de 27 andares, o Treme-treme, é horrível, está detonado (veja as fotos de Sérgio Neves e Sérgio Rocha, que pesquei na internet), parece um colosso que brotou no meio do nada, mas me desperta certa simpatia. Li, em algum lugar, que o apelido vem da incessante atividade de prostitutas em muitas das 624 quitinetes do “empreendimento”. O, digamos, vai e vem inevitável da profissão fazia “tremer” as estruturas. Não sei se é a origem fiel do apelido, mas me pareceu convincente e suficientemente curiosa, a história.

Antes de decidir colocar o prédio abaixo, a Prefeitura até pensou em reformá-lo, transforma-lo em condomínio popular, ou o que quer que isso signifique! Desistiram quando alguém apresentou o comparativo de custos. Seriam R$ 18 milhões contra apenas R$ 2 milhões necessários pra liberar a paisagem da avenida do Estado. Havia outros motivos além do custo, afirmam, mas não achei em lugar algum quais seriam.
E por que ainda não derrubaram?
Embora a vizinhança toda reclame do São Vito, ele não pode reclamar de seu vizinho mais próximo, o Edifício Mercúrio. É o prédio com nome de planeta, residencial, que mantém o santo em pé. Estão coladinhos, o que exige uma demolição manual. Nada de dinamite, bolas de ferro ou tratores com operadores barbudos e mal encarados, portanto. Apenas britadores e marretas. E muito entulho. A pilha chegaria a oito andares. É claro que pelo menos parte desse entulho poderia ser processada para aproveitamento em outras obras, mas duvido que alguém pense em algo desse tipo. Se pensar, uma centena de exigências burocráticas inviabilizaria o processo, decerto.

Para viabilizar a derrocada do Vitão e transformar a região toda numa bela praça de 5,4 mil m², tomada por mendigos, prostitutas, trombadinhas (ainda existem trombadinhas?), michês e vendedores de bilhete da loteria, a Prefeitura decidiu derrubar também o prédio com nome de deus romano. Assim, em fevereiro desse ano, disparou cartas com propostas de indenização para os 120 proprietários do edifício Mercúrio. Os valores para aquisição das unidades variam entre R$ 22 mil e R$ 30 mil. [Essas informações foram obtidas aqui]

Parece que surtiu efeito – e, depois de tanto texto, vem a única informação interessante. O jornalzinho Metro (aquele comentado alguns posts atrás) informou hoje, três de dezembro de 2008, que o Mercúrio começou a ser, efetivamente, desapropriado. Virá a praça? Virá a implosão? Virá a reforma? Afinal, o que o futuro reserva ao outrora glorioso Treme-treme? Mercúrio salvará o santo siciliano do infortúnio mais uma vez? Só o tempo dirá! (OK, talvez o Kassab também possa dizer)

* Em tempo, há uma licitação em andamento, no valor de R$ 3,5 milhões, para demolir também o Viaduto Diário Popular. O assunto merece apuração. Afinal, como ficaria o sistema viário da região, sendo que é uma via essencial para a interligar os dois lados do rio.

2 comentários:

Flávia disse...

Existe um tanto de preconceito no dicurso de "recuperação" do centro. Ele seria degradado porque está tomado por gente pobre e marginalizada. E recuperá-lo seria torná-lo um lugar aprazível para passeios da classe média...

Bruno disse...

para recuperá-lo bastaria regularizar a situação de quem já mora lá, de quem ocupou a região quando ela foi abandonada pela classe média nos anos 80. mas isso sairia muito caro e ficou mais fácil derrubar tudo. daí, a burguesia pode visitar o centro nos finais de semana, num movimento oposto ao de antigamente, quando as pessoas aproveitavam as folgas pra sair da cidade. não entendo mais nada!