quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Retrospectiva 2008 - 2º Semestre

Como prometido, voltei. No último post do ano, a retrospectiva do segundo semestre de 2008. O semestre da crise...



Julho


Entra em vigor, em São Paulo, a restrição da circulação de caminhões no centro expandido – limitado pelas marginais Tietê e Pinheiros e pelas avenidas dos Bandeirantes, Pres. Tancredo Neves, Luís Inácio de Anhaia Melo e Salim Farah Maluf. Segundo a ZRMC (Zona Máxima de Restrição de Circulação) – nome oficial da coisa – os caminhõezões com placas de final par e ímpar ficam proibidos, em dias úteis alternados, de circular no centro expandido das 5h às 21h. Quem não gostou nada foram as construtoras, que tinham de descarregar os materiais nos canteiros das 21h às 22h, horário máximo permitido pela Lei do Silêncio. Dias depois, a restrição foi abrandada e os caminhõezinhos (também chamados de VUCs – Veículos Urbanos de Carga) foram autorizados a circular das 10h às 16h.



Agosto

Foi um mês sem muitas novidades, já que todos estavam prestando atenção nos Jogos Olímpicos e na campanha para as eleições municipais. Além fatos corriqueiros – e da criação deste blog! –, talvez o mais memorável tenha sido a divulgação do laudo do IC (Instituto de Criminalística) sobre o acidente da estação Pinheiros. Ele contestava os pareceres do Consórcio Via Amarela, divulgado no mês anterior, negando qualquer tipo de fatalidade no evento.

Na lista das causas estão a seqüência de explosões para a abertura do túnel no solo de "rocha podre" -mesmo depois do rebaixamento do terreno.
O IC também considerou que, se as construtoras tivessem reforçado as paredes do túnel após os sinais de instabilidade, a cratera poderia ter sido evitada. O consórcio não concluiu a instalação de tirantes (estruturas de sustentação).
Peritos do IC que trabalharam na investigação relataram à Folha duas situações que resvalam em decisões do governo estadual -embora não as tenham incluído como causas.
Uma delas é a escolha do modelo de contrato, conhecido como "turn key" (chave na mão, numa tradução livre), que delega mais autonomia às empreiteiras. A outra, a profundidade da escavação. Para os peritos, se fosse 20 metros mais baixa, a característica do solo seria melhor e os riscos, menores.

Folha de S. Paulo, 26/8/08




Setembro

As quedas na Bovespa, que já vinham se sucedendo desde o mês de maio, agravou-se ainda mais com as informações que vinham dos Estados Unidos. O banco de investimentos Lehman Brothers anunciou que declararia sua concordata; o governo americano teve que correr para salvar da falência a AIG, maior seguradora do país.
Nesse contexto, a Gafisa anunciava a compra da construtora Tenda, mas isso não serviu para blindar as ações das empresas, pois em...



...Outubro...

...o problema degringolou. Veja só o meu caso. No começo do ano, eu tinha comprado umas açõezinhas, dentre as quais 20 da Tenda, apostando na explosão das vendas para o segmento popular. Cada uma me custou R$ 10,00 cravados, num total de R$ 200,00. Em outubro, naqueles malditos dias em que o circuit braker foi acionado três vezes, vendi desesperado minhas ações da empresa. Cada uma custando míseros R$ 0,75 – dois pães e uma bala, na padaria aqui perto de casa. Desvalorização de 92,5%. Esse caso foi o pior dentre as construtoras, mas empresas como a Rossi ou a MRV passaram por desvalorizações muito fortes também, maiores do que a média do Ibovespa.



Novembro

As coisas começavam a apertar, a crise de crédito já batia no mercado brasileiro e as construtoras passaram a “sentar no caixa”. Redução de metas para 2009, corte de gastos, demissões de engenheiros, arquitetos, tecnólogos... Era o fim do boom. Temendo o pior, o Governo Lula edita a Medida Provisória 443, que, entre outros, criava a CaixaPar, braço da Caixa Econômica Federal que poderia participar de forma aberta na aquisição e incorporação de empresas financeiras e da indústria da construção civil. A MP ainda hoje (dezembro) está sob avaliação do Senado.



Dezembro

Niemeyer, o Highlander, completa 101 anos. E, em meio a tantas notícias preocupantes, uma observação positiva, oras: o déficit habitacional caiu 9,5%, segundo estudo divulgado pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção). Isso equivale, de acordo com a entidade, à construção de 755 mil domicílios de interesse social. O Estado de São Paulo registrou a maior queda no déficit, mas o indicador cresceu no Amapá, Rio Grande do Norte, Goiás, Tocantins, Acre, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Obs.: Feliz Ano Novo! Na semana que vem, voltamos à rotina de postagem tradicional, de três vezes por semana, pelo menos. Na medida do possível, também tentaremos adaptar nossos textos às novas regras ortográficas que entram em vigor no dia 1º de janeiro.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Retrospectiva 2008 - 1º Semestre

Estimado leitor, nos últimos dias eu bem queria postar algo neste blog, mas o volume de trabalho me impedia de pensar um assunto bacana para publicar. Melhor que tenha acontecido nesta semana, quando muita gente já deve ter saído de férias e quer distância de seus computadores pessoais, da Internet e de tudo mais que lhe lembre trabalho.

Hoje, sobrou-me um tempo. E, mesmo sendo véspera da véspera de Natal (ou antevéspera, para os mais puristas da língua), preparei uma retrospectiva do que aconteceu na engenharia, arquitetura e na construção em 2008.



JANEIRO

O ano começa com a notícia de que o Lula jogou água no plano dos arquitetos de terem o seu próprio conselho profissional, vetando a criação do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Até um novo projeto ser novamente elaborado, votado e (quem sabe) sancionado, os arquitetos vão ter que conviver pacientemente com mais outras centenas de categorias profissionais sob domínio do(s) CREA(s).




FEVEREIRO

Duas das rodovias mais esburacadas e perigosas do País, Régis Bittencourt e Fernão Dias, são privatizadas – evento raro num governo do PT. O fato é que as concessionárias que levaram a melhor no leilão serão obrigadas a fazer obras de melhorias e de duplicação de trechos dessas estradas.




MARÇO

É apresentado ao Brasil o consultor norueguês Nick Barton, sujeito contratado pelo Consórcio Via Amarela para elaborar um laudo técnico independente sobre as causas do colapso da estação Pinheiros do Metrô de SP, ocorrido em janeiro de 2007. Para ele, a fatalidade, veja só, ocorreu porque as sondagens do terreno não detectaram uma “torre sísmica” – em outras palavras, um morrão sólido, fino e pesado – de 15 mil toneladas localizada exatamente acima do túnel que desabou. Um fato raro na Engenharia.




ABRIL

Para concorrer com o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design) no mercado de certificações de sustentabilidade de imóveis, é lançado no Brasil o selo Aqua (Alta Qualidade Ambiental). A versão tupiniquim do francês HQE (Haute Qualité Environnementale), porém, parece não ter “pegado”: até agora, nenhuma incorporadora anunciou a intenção de certificar seus empreendimentos com o Aqua.




MAIO

É finalmente publicada a chamada Norma de Desempenho. Sob o nome de NBR 15.575 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho, o documento traz uma série de requisitos que envolvem níveis de conforto acústico, térmico, segurança contra fogo, etc, etc etc. Vale para cinco sistemas da edificação: estrutura, pisos internos, vedações, sistemas hidrossanitários e cobertura. Há um período de carência de dois anos para todo mundo se adaptar à dita cuja.




JUNHO

O IPT torna público seu relatório sobre o desabamento da estação Pinheiros e destaca os 11 pontos que teriam provocado o acidente. No mercado de trabalho, ainda em tempos de prosperidade econômica, era tempo de vacas gordas para engenheiros, arquitetos e tecnólogos, com empregos de sobra e pomposos salários. Era o auge da corrida por profissionais do setor.


(Na semana que vem, última do ano, estaremos de volta com a parte final da Retrospectiva 2008.)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Prêmio, prêmio!

Na última quinta-feira, dia 11/12, o Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo) agraciou alguns profissionais com o Prêmio Personalidade da Tecnologia. A data da entrega do prêmio não é por acaso. Vem a ser o Dia do Engenheiro. A premiação existe desde 1987 e nesse ano procurou homenagear os engenheiros que tenham contribuído para o desenvolvimento sustentável da nação.

Vamos aos ilustres ganhadores!
Na categoria Valorização Profissional, Vahan Agopyan, professor da Poli-USP e conselheiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), levou o caneco. O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) também emplacou um agraciado. Foi o seu diretor do Centro de Engenharia Naval e Oceânica, Carlos Daher Padovesi. Roberto Lotufo, diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, da Universidade Estadual de Campinas, foi o escolhido na categoria Inovação. O coordenador de pesquisa em hidrólise enzimática do Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, Carlos Eduardo Rossell, desbancou os demais concorrentes à láurea da categoria Energia. Issa!!! A Cesar o que é de Cesar. Por isso, o Cesar (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), representado por seu cientista-chefe, Silvio Meira, digladiou os demais aspirantes ao reconhecimento na categoria Tecnologia da Informação. O prêmio de Engenharia Consultiva foi para a casa do empresário e consultor Nelson Nucci.

Outras informações aqui: www.seesp.org.br

Confea quer estudantes de engenharia

O Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) assinou um termo de colaboração com oito entidades representativas do ensino superior - as siglas são muitas e estão todas abaixo. O objetivo desse pessoal todo é promover o acesso dos estudantes e dos docentes das áreas abrigadas pelo sistema do Conselho à legislação profissional por meio da produção de materiais didáticos que contemplem interesses comuns. Dessa forma, esperam, os estudantes estarão mais bem preparados para o exercício das respectivas profissões.
Para o sistema Confea/Crea - que suscita opiniões não muito amigáveis da maior parte dos engenheiros do País - o convênio assinado é de suma importância por associar o sistema educacional à atividade profissional. Talvez seja uma resposta às críticas recebidas pelo sistema, que é acusado de não atuar a favor da atividade profissional.
Veremos como funcionará na prática.

As siglas dos participantes, enfim: Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior), Abrafi (Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas), Abruc (Associação Brasileira das Universidades Comunitárias), Abruem (Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais), Anaceu (Associação Nacional dos Centros Universitários), Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), Confenen (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino) e Crub (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras).

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Negócio seguro (?)


A crise econômica e o medo da recessão têm atormentado empresários em todo o mundo. E a situação não poderia ser diferente na Argentina.

Para garantir que seu próximo negócio não afunde, incorporadores portenhos construirão um centro comercial flutuante na cidade de Buenos aires.

(Perco o leitor, mas não perco o trocadalho. A notícia, porém, é de verdade.)

O complexo, concebido pelas empresas Vizora e Proideas, abrigará lojas, restaurantes e um hotelzinho que funcionará em frente aos diques 1 e 2 de Puerto Madero.

Chamado de Madero Walk, o projeto começará a ser executado em março de 2009. Acredita-se que, entre 12 e 15 meses, seja entregue a primeira fase do empreendimento: 35 quartos do hotel e 150 marinas. Em 2011, serão entregues as lojas, o pólo gastronômico e um salão de eventos.

O investimento será de cerca de US$ 10 milhões. A área total construída, de 18 mil m², num "terreno" (ou "espelho d'água", para usar a expressão mais adequada) de 160 mil m².

Via Clarín

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Paredes de gesso


Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba desenvolveram um sistema de vedação composto por blocões de gesso. Que fique claro: são blocões de gesso maciços, não são chapas de gesso acartonado.

Para facilitar a vida do arquiteto, as peças têm dimensões múltiplas de 10 cm, unidade básica da Coordenação Modular no Brasil. Assim, com números redondos e não quebrados, tenta-se minimizar a possibilidade de interferências com os projetos de outros sistemas da construção.


Só que, de acordo com a matéria do Portal Habitare*, os pesquisadores ainda precisam se virar para resolver um problema decorrente de uma característica própria do material de que os blocões são feitos.

O gesso é extremamente sensível à ação da água. E, para as paredes não se dissolverem e sumirem com a primeira chuva que cair sobre a casa, vai ser preciso desenvolver um bom tratamento para o sistema.

“Estudos estão sendo feitos no sentido de intervir na matriz de gesso para aumentar sua resistência em relação à água”, disse o professor NormandoPerazzo Barbosa, coordenador do trabalho.


* Melhor visualização com o Internet Explorer; com o Mozilla Firefox é impraticável.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Primeiro prédio sustentável da USP

Acaba (pelo menos era o que o release dizia: sexta, às 9 h) de ser oficialmente lançado o projeto da PRIMEIRA edificação ambientalmente sustentável da USP (Universidade de São Paulo) [aplausos]. O prédio em questão é o Cecas (Centro de Estudos de Clima e Ambientes Sustentáveis). Nada mais pertinente, não é mesmo?

O projeto - e o release - prometem que a edificação não vai consumir nada, nadica de nada, de energia. Presumo que quiseram dizer que consumirá apenas energia renovável. Afinal, até um cemitério consome alguma energia. Nem que seja fogo fátuo ou a energia potencial presente nos corpos em decomposição e transformada pelos vermes em energia mecânica e outras energias demandadas pelos vermes.

Enfim, fato é que o projeto saiu das cabeças do pessoal do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) e da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) – me pergunto, idiotamente, e a Poli?. O PRIMEIRO PRÉDIO AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL DA USP [aplausos] abrigará a Rede Temática sobre Mudanças Globais, o Centro de Ciências da Terra e do Ambiente e o Laboratório de Modelos para a Sustentabilidade das Construções.

Por enquanto, não tenho informações sobre datas de conclusão, local da construção ou qualquer coisa importante desse tipo. Assim que descobrir, atualizaremos esse post.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Reprodução: Portal Aprendiz

Vi no portal Envolverde, mas foi originalmente publicado no Aprendiz. O link está aqui. Devidamente reproduzido, com créditos e tudo, inclusive foto. Como não temos fins lucrativos, acho que não seremos processados por reproduzir.

Construção de cidades sustentáveis depende de mudanças estruturais e articulação
por Talita Mochiute
“O governo é aderente à iniciativa privada. Não falta plano, não falta lei, não falta competência. É preciso mudar o mercado imobiliário”. A afirmação é da professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) Ermínia Maricato. Ela participou do Urban Age, conferência internacional para discussão sobre o urbanismo das megacidades, que ocorreu na última semana na cidade de São Paulo.

A professora participou do debate “Negociando projetos da cidade”, no qual foram apresentados projetos que buscam melhorar a qualidade de vida em algumas megacidades do mundo. Segundo Ermínia, os projetos conseguem solucionar determinadas demandas, mas antes é necessário discutir questões estruturais que acabam ditando a dinâmica urbanística.

De acordo com a arquiteta, a falta de solução dessas questões de base, principalmente nos países do hemisfério Sul, está relacionada a problemas como a especulação imobiliária e a ocupação ilegal. “No Nordeste, a ilegalidade chega há 90%. O Estado não tem controle dessa situação”, comentou.

O ex-secretário de Planejamento da cidade de São Paulo Jorge Wilheim, que participou como mediador do debate, lembrou a importância de entender o papel das incorporadoras neste processo de construção das cidades brasileiras mais sustentáveis. “Quem são os atores que constroem as cidades?”, lançou a questão aos debatedores.

Para o ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, falta diálogo entre os diferentes agentes: planejadores, iniciativa privada e população.

Segundo o diretor do programa London 2012 Olympic Legacy Team, Richard Brown, o poder público precisa passar da fase da regulamentação para a negociação, utilizando as regras para beneficiar a população. Para alcançar esse patamar, é preciso ter clareza sobre que cidade se deseja construir, além de habilidade e capacidade para fazer acordos com a iniciativa privada.

O mediador do debate Jorge Wilheim acredita que a crise econômica financeira é uma oportunidade para a mudança da relação entre governo e iniciativa privada. “Crise quer dizer decisão e mudança”, concluiu.

Intervenções urbanas internacionais

Além da discussão sobre os problemas das cidades brasileiras, a conferência trouxe exemplos internacionais de soluções urbanísticas. Um deles foi o projeto de revitalização da região chamada Low Manhattan, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

No início dos anos 2000, essa região comercial estava decadente com a mudança dos escritórios para outros locais da cidade. “Para salvar a região, oferecemos incentivos fiscais aos comerciantes e a novos moradores. Depois, incentivamos a construção de novos espaços. No final do processo, conseguimos não só revitalizar o local, como trazer 45 mil novos moradores“, descreveu a diretora de Departamento de Planejamento da Cidade e Comissionado de Nova Iorque, Amanda Burden.

O arquiteto holandês Kees Christiaanse apresentou o projeto Cidade Aberta para construção de um bairro sustentável com prédios multifuncionais. Já o vice-prefeito da Filadélfia (EUA), Andrew Altman, mostrou como em 2004 conseguiram mudar a região do Waterfront com a construção de conjuntos habitacionais de baixa renda e com a participação comunitária.

Intervenção para capital paulista

A diretora do curso de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Nádia Somekh, apresentou um projeto para a região central da cidade de São Paulo. Um dos pontos centrais é a questão da moradia. “É preciso ocupar essa região esvaziada”, afirmou.
Para aumentar a concentração demográfica do Centro, a arquiteta defendeu a reforma dos prédios que se transformaram em cortiço, como o São Vito. Dessa maneira, a intervenção urbana serviria para a inclusão social.

“São Paulo teve intervenções urbanas ruins em que nunca esteve presente o desejo de uma cidade mais fluída”, disse o professor de arquitetura do Mackenzie, Carlos Leite. “Articulação dos diversos níveis é fundamental para um planejamento urbano metropolitano”, afirmou Nádia.

Energia dos céus


Falando mais uma vez de religião neste blog, a notícia agora é que também a casa de Deus (o dos Católicos) entrou na onda da sustentabilidade. O governo do Vaticano encheu de painéis solares a cobertura do Nervi Hall, que acolhe algumas audiências públicas de Sua Santidade.

Foram instaladas 2.400 placas em 5 mil m² de cobertura, capazes de gerar aproximadamente 300 MWh de energia elétrica anuais. A intenção também é reduzir em 10 mil toneladas a quantidade de CO2 que aquele Estado emite para a atmosfera por ano.

O equipamento foi doado pelas empresas alemãs SolarWorld e SMA Solar Technology, que depois dessa já devem ter seus lugares garantidos no Paraíso.


E o Vaticano é ainda mais ambicioso. Até 2020, quer que 20% da energia que utiliza tenha origem em fontes renováveis. É sua contribuição para tentar aplacar a Ira Divina contra Seus filhos, que há tanto tempo vêm destruindo o planeta que Ele criou.


Mais uma vez... via Inhabitat

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Tira a pata


Um monte de arquitetos anda de olho num projeto multimilionário de remodelação de Meca, cidade mais sagrada do Islamismo, localizada na Arábia Saudita.

Entre as intervenções, inclui-se uma ampliação do entorno da mesquita central de Haram, que lhe permitiria acomodar até 3 milhões (isso mesmo, quase três cidades de Campinas juntas) de peregrinos.

Só que existe um "pequeno" problema, que ainda deve gerar muita treta: nenhum dos arquitetos convidados pelo rei Abdullah bin Abdul Aziz são sauditas, e muitos nem muçulmanos. É o caso do super-estrela britânico Sir Norman Foster. Figura na lista também a arquiteta iraquiana Zaha Hadid.

Em entrevista concedida ao The Times, Sami Angawi*, especialista saudita em arquitetura islâmica em Meca e Medina, soltou os cachorros nessa escolha. Algo meio raro num país cujos habitantes costumam dizer amém (ou o equivalente na cultura islâmica) para tudo o que o rei decide.

"Você não pode redesenhar um lugar como este sem conhecê-lo profundamente", afirma. Os não-muçulmanos, por exemplo, são proibidos até de entrar na cidade santa.

Angawi defende a idéia de que os arquitetos "outsiders" deveriam tirar as patas desse projeto. Nada mais justo que fique com os sauditas.

Via: The Times

* O nome do saudita havia sido incorretamente grafado. O texto foi corrigido.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Apê na cartela

Uma imobiliária espanhola inventou um método de vendas um tanto excêntrico para contornar a crise do setor imobiliário do país.


Já há alguns bons meses o segmento anda mal das pernas. A ponto de uma construtora erguer prédios residenciais nos arredores de Barcelona e não conseguir vendê-los.

Como se livrar de um empreendimento fadado ao fracasso?

Baixa o preço e vende mesmo com preju!
Não.

Aumenta o prazo de pagamento pra 30, 40, 50 anos!
Não.

Já sei! Faça uma rifa!
Geniaaaaaaal!
(Pelo menos na cabeça deles)

A imobiliária, denominada "Grupo de Empresas Rob", está achando que vai conseguir convencer 7 mil pessoas a comprar os cupons. Cada um deles custando 50 euros.

Isso para cada apartamento. Ele acham (mesmo!) que vão arrecadar, em média, 350 mil euros por unidade. São 31.

A imobiliária quer vender pelo menos 6,5 mil cupons para cada imóvel. Se a meta não for atingida, eles devolvem a grana pros apostadores.

As áreas dos apartamentos variam de 50 m² a 90m². Todos na mesma rua da cidadezinha de Santa Coloma de Gramenet.

Via Le Moniteur

(Em tempo, essa é a mesma cidade que transformou seu cemitério em parque solar, enchendo as coberturas dos mausoléus de placas fotovoltaicas)

* A foto deste post é meramente ilustrativa. Os apartamentos rifados não são aqueles mostrados na imagem.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Treme mas não cai

Pelo menos desde 2006, que foi quando comecei a acompanhar essa história, há planos da Prefeitura da Cidade de São Paulo de demolir o edifício São Vito – popularmente conhecido como “Treme-treme” – que fica em um dos lugares mais sujos e degradados do centrão paulistano. A intenção é começar a recuperar a região, que abriga também o Mercado Municipal, prédio que foi restaurado e agora é um bom destino de fim de semana. Desde que, é claro, você tenha a paciência de circular por uma hora e meia para achar onde estacionar e, quando parar o carro, tenha de R$ 15 a R$ 20 pra desembolsar pela estada do veículo. O transporte público na região – absurdamente central – é sofrível.

O prédio de 27 andares, o Treme-treme, é horrível, está detonado (veja as fotos de Sérgio Neves e Sérgio Rocha, que pesquei na internet), parece um colosso que brotou no meio do nada, mas me desperta certa simpatia. Li, em algum lugar, que o apelido vem da incessante atividade de prostitutas em muitas das 624 quitinetes do “empreendimento”. O, digamos, vai e vem inevitável da profissão fazia “tremer” as estruturas. Não sei se é a origem fiel do apelido, mas me pareceu convincente e suficientemente curiosa, a história.

Antes de decidir colocar o prédio abaixo, a Prefeitura até pensou em reformá-lo, transforma-lo em condomínio popular, ou o que quer que isso signifique! Desistiram quando alguém apresentou o comparativo de custos. Seriam R$ 18 milhões contra apenas R$ 2 milhões necessários pra liberar a paisagem da avenida do Estado. Havia outros motivos além do custo, afirmam, mas não achei em lugar algum quais seriam.
E por que ainda não derrubaram?
Embora a vizinhança toda reclame do São Vito, ele não pode reclamar de seu vizinho mais próximo, o Edifício Mercúrio. É o prédio com nome de planeta, residencial, que mantém o santo em pé. Estão coladinhos, o que exige uma demolição manual. Nada de dinamite, bolas de ferro ou tratores com operadores barbudos e mal encarados, portanto. Apenas britadores e marretas. E muito entulho. A pilha chegaria a oito andares. É claro que pelo menos parte desse entulho poderia ser processada para aproveitamento em outras obras, mas duvido que alguém pense em algo desse tipo. Se pensar, uma centena de exigências burocráticas inviabilizaria o processo, decerto.

Para viabilizar a derrocada do Vitão e transformar a região toda numa bela praça de 5,4 mil m², tomada por mendigos, prostitutas, trombadinhas (ainda existem trombadinhas?), michês e vendedores de bilhete da loteria, a Prefeitura decidiu derrubar também o prédio com nome de deus romano. Assim, em fevereiro desse ano, disparou cartas com propostas de indenização para os 120 proprietários do edifício Mercúrio. Os valores para aquisição das unidades variam entre R$ 22 mil e R$ 30 mil. [Essas informações foram obtidas aqui]

Parece que surtiu efeito – e, depois de tanto texto, vem a única informação interessante. O jornalzinho Metro (aquele comentado alguns posts atrás) informou hoje, três de dezembro de 2008, que o Mercúrio começou a ser, efetivamente, desapropriado. Virá a praça? Virá a implosão? Virá a reforma? Afinal, o que o futuro reserva ao outrora glorioso Treme-treme? Mercúrio salvará o santo siciliano do infortúnio mais uma vez? Só o tempo dirá! (OK, talvez o Kassab também possa dizer)

* Em tempo, há uma licitação em andamento, no valor de R$ 3,5 milhões, para demolir também o Viaduto Diário Popular. O assunto merece apuração. Afinal, como ficaria o sistema viário da região, sendo que é uma via essencial para a interligar os dois lados do rio.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Paredes férteis

Uma pesquisa realizada na USP de São Carlos indica que é possível substituir o cimento por um subproduto da indústria de fertilizantes, o fosfogesso. Os pesquisadores descobriram que é possível utilizar esse material para produzir elementos cerâmicos com resistência de, vejam só, até 90 MPa.
Para o processamento desse material de nome curioso, o professor Milton Ferreira de Souza e seu orientando, Wellington Massayuki Kanno, desenvolveram um método de nome igualmente excêntrico: Ucos. Claro que se trata de uma sigla para Umedecimento, Compactação e Secagem. O gesso comum também pode ser processado por meio do Ucos, afirmam.
Ainda segundo eles, em dois anos será possível desenvolver uma planta piloto para colocar no mercado blocos estruturais de fosfogesso. A aposta é no segmento de habitações populares, que serviria de porta de entrada para o material.
Pois bem, a notícia é muito interessante. Mas o que diabos é fosfogesso? Oras, é o nome que se dá ao gesso de origem química, gerado no processo de fabricação de fertilizantes – daí o infame título desse post. “A rocha fosfática é atacada por ácido sulfúrico resultando em fosfogesso e em ácido fosfórico, que é a base dos fertilizantes fosfatados”, descreveu Kanno, com toda a propriedade que lhe é inerente.
É um material inerte e que não traz grandes riscos ao meio ambiente. Ainda assim, a idéia de descartar em aterros algo que pode ser útil, desde que processado com o Ucos, é incômoda e não pega bem em tempos de sustentabilidade. Ainda mais porque o terreno precisa ser preparado de acordo com as resoluções do Conama, que exige impermeabilizações e até projetos estruturais para as montanhas de fosfogesso. Uau!
Por ano, o Brasil produz cerca de 5 milhões de t desse material. Como já produzimos fertilizantes há um bom tempo, temos um “estoque” de 150 milhões de toneladas desse subproduto. O texto do qual retirei essas informações não responde à primeira pergunta que me vem à cabeça: dá pra fazer blocos cerâmicos desse material estocado?

UCOS!!! Como???
O método de Kanno e Souza exige a desidratação do pó de fosfogesso por meio de aquecimento e compressão em moldes, que podem ter formatos diversos. Dessa forma as partículas se aglomeram e formam um corpo rígido e resistente, de até 90 MPa, como dissemos acima. O fosfogesso estrutural é quase instantâneo. Depois de apenas 30 minutos ele já está pronto para ser utilizado na sua estrutura!

* as informações são da Agência USP

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Casa para relaxar


A feira Insite09: Constructing the Future será realizada no próximo mês de junho no Reino Unido. É mais uma das grandes feiras mundiais, em que expositores apresentam seus novos lançamentos e tecnologias para o segmento da construção.

Nesse caso, lançamentos e tecnologias e materiais que “contribuam para o futuro sustentável no Reino Unido”.

Uma de suas principais atrações será uma casa feita com um material bastante curioso.

Para concebê-la, os projetistas queimaram seus neurônios. Queimaram tudo, até a última ponta. Quando ela ficou pronta, os projetistas relaxaram. Bateu até uma laricazinha.

Adivinha em que o projeto é baseado?

É, a casa é feita de maconha.

O objetivo do projeto é “demonstrar os benefícios de materiais renováveis”, dentre eles a Cannabis sativa.

O site Hempbuilding traz algumas informações sobre o sistema construtivo.

Lá, eles dizem que, em vez de ser fumada, a maconha é misturada a um composto de concreto. A pasta é moldada a mão em torno de uma estrutura de madeira para formar a alvenaria. Pode também ser projetada contra um sistema de fôrmas permanente ou temporário.

Sistema interessante, mas há ainda uma lacuna no conhecimento científico sobre o assunto. A principal pergunta não respondida: qual seu comportamento sob a ação do fogo?

Assunto pertinente, quando se fala de uma casa dessa natureza.

O bagulho... digo, o insumo.

Piso feito com o maconcreto

Acabamento interno

Mais acabamento interno

Acabamento externo